11 dezembro 2009

sonhar

deixem-me sonhar 
afinal de que seria feita a minha vida? 
pouco. 
só viver não me chega. 
deixem-me falar sozinha 
acordar e ficar na cama de olhos abertos 
ou fechados 
deixem-me parar no tempo 
quanto tempo eu precisar 
deixem-me. 
porque é nesses momentos que eu mais vivo 
que vou mais longe 
onde têm lugar as coincidências 
os romances 
os olhares
as rosas e as músicas 
os beijos também. 
vou onde quiser e estou com quem desejo 
longe 
ou até mesmo aqui. 
pode ser aqui 
mas deixem-me sonhar. 
de entre a pequenez do meu mundo 
deixem-me sair 
que voltar tenho sempre. 
choro. 
deixem-me chorar 
adoro chorar 
todos os dias. 
torna tudo tão real e tão distante. 
podia contar mil histórias 
sonhos 
sem nunca um fim. 
a vida é feita de fins 
mas quando sonho não há fins 
não há dias nem horas 
há momentos 
intemporais 
tão próximos da memória quanto os outros 
os que existiram 
onde há mais alguém que se lembra 
isso é pena. 
podia mais alguém lembrar-se do que sonho 
sentir, ver e viver o que fabrico. 
mas se é isso que me enche… 
assim seja 
só quero que me deixem sonhar. 
e ir quando sonho. 
e chorar quando vou. 
também quando venho. 
deixem-me enterrar-me no meu romantismo
doentio 
nos encontros que nunca vão acontecer 
e nas palavras que não vou ouvir 
nos beijos e abraços que apenas anseio 
na paixão arrebatadora 
que não tem lugar 
nem eu quero que tenha. 
deixem-me cantar-lhes melodias 
tristes e melancólicas 
com a voz trôpega e trémula 
transbordante de emoções 
deixem-me chorar pelas surpresas 
pelo carinho 
pelos gestos 
que de outro modo 
só poderei chorar pela sua ausência. 
deixem-me sorrir de uma infinita felicidade 
porque assim ela é minha 
posso senti-la e vivê-la 
deixem afundar-me na solidão 
porque afinal é ela que me preenche 
e não a que me mata ou me afasta… 
deixem-me sonhar, peço. 
não me obriguem só a viver. 
porque é tão pouco…
12 novembro 2008, porto

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