21 dezembro 2009

passageiro

"adj. de pouca dura, transitório, efémero. s. m. aquele que vai passando, em viagem".
reza assim o dicionário.

passageiros são a noite e o dia e são as fases da lua. passageiras são as tristezas e inseguranças. são passageiras as vozes e as frases que disse. são passageiras as memórias mesmo as que passam devagar. passageiras são também as que nunca chegaram a partir. passageiros são os olhares e os toques. passageiro é o arrepio e o fechar dos olhos. passageiro é o grito e o murro na mesa. é passageira a gota de suor que desliza sobre o teu corpo e passageira é quando os lençóis a engolem. passageiro é também voltar atrás sem continuar em frente.

passageiro é ir sem chegar. passageiro é o desejo e a angústia. passageiros são os amigos e os segredos. são também passageiros os risos e os abraços. passageiro é quando me lembro e quando me deito. passageiras são as flores que trouxemos do jardim e as que lá ficaram. passageira é a tua mão na minha e passageiro é também o chocolate que comi. passageiros são aqueles que estiveram de passagem na carruagem da minha vida. passageira sou eu.

passageiro é quando sonho e quando corro. passageiro é quando brinco e quando amo. é passageiro aquele que magoa e o que conforta. passageiros são os dias e as lágrimas. passageiras são as pessoas e os momentos que as fizeram. passageiro foi o que me marcaste assim como as nossas palavras. tão passageiras são as horas que de passagem está também a saudade que ficou.

se pudesse escolher, seria passageira. de ti. e do meu corpo, a paixão é também ela passageira.

14 dezembro 2009

olha!

nunca te esqueças de me avisar quando vires no meu olhar... um vazio.

13 dezembro 2009

...

"gostar-te da maneira que te gosto é mais do que só gostar-te. é um desafio. permanente. intemporal. é amar-me pelo que és e amar-te pelo que sou. é ir. é deixar. é sentir. e sobretudo ser. eu também. é muito mais do que uma palavra, frase ou pergunta. é difícil. é grande. significa todas as coisas que ficaram fora das caixas e corações, por neles não caberem. gostar-te é sempre mais qualquer coisa do que antes. espalha-se e cresce transparente. pelo mundo onde semearmos."
25 outubro 2008, porto

11 dezembro 2009

sonhar

deixem-me sonhar 
afinal de que seria feita a minha vida? 
pouco. 
só viver não me chega. 
deixem-me falar sozinha 
acordar e ficar na cama de olhos abertos 
ou fechados 
deixem-me parar no tempo 
quanto tempo eu precisar 
deixem-me. 
porque é nesses momentos que eu mais vivo 
que vou mais longe 
onde têm lugar as coincidências 
os romances 
os olhares
as rosas e as músicas 
os beijos também. 
vou onde quiser e estou com quem desejo 
longe 
ou até mesmo aqui. 
pode ser aqui 
mas deixem-me sonhar. 
de entre a pequenez do meu mundo 
deixem-me sair 
que voltar tenho sempre. 
choro. 
deixem-me chorar 
adoro chorar 
todos os dias. 
torna tudo tão real e tão distante. 
podia contar mil histórias 
sonhos 
sem nunca um fim. 
a vida é feita de fins 
mas quando sonho não há fins 
não há dias nem horas 
há momentos 
intemporais 
tão próximos da memória quanto os outros 
os que existiram 
onde há mais alguém que se lembra 
isso é pena. 
podia mais alguém lembrar-se do que sonho 
sentir, ver e viver o que fabrico. 
mas se é isso que me enche… 
assim seja 
só quero que me deixem sonhar. 
e ir quando sonho. 
e chorar quando vou. 
também quando venho. 
deixem-me enterrar-me no meu romantismo
doentio 
nos encontros que nunca vão acontecer 
e nas palavras que não vou ouvir 
nos beijos e abraços que apenas anseio 
na paixão arrebatadora 
que não tem lugar 
nem eu quero que tenha. 
deixem-me cantar-lhes melodias 
tristes e melancólicas 
com a voz trôpega e trémula 
transbordante de emoções 
deixem-me chorar pelas surpresas 
pelo carinho 
pelos gestos 
que de outro modo 
só poderei chorar pela sua ausência. 
deixem-me sorrir de uma infinita felicidade 
porque assim ela é minha 
posso senti-la e vivê-la 
deixem afundar-me na solidão 
porque afinal é ela que me preenche 
e não a que me mata ou me afasta… 
deixem-me sonhar, peço. 
não me obriguem só a viver. 
porque é tão pouco…
12 novembro 2008, porto