28 junho 2010

só hoje

se hoje vieres ter comigo... prefiro que me digas o que gostas em mim do que me digas o que achas que eu devia mudar.
só hoje. se não... até amanhã.

10 junho 2010

bucket list - em permanente actualização

mais ou menos por ordem ou nem por isso:

acabar a tese
emagrecer
aprender a andar de bicicleta
fazer umas roupas
arranjar estágio, remunerado e com inov jovem
juntar dinheiro
entrar para a ordem
arranjar emprego
fazer mais uns piercings
fazer a tal de tatuagem
viajar o mundo
fazer voluntariado - com crianças e animais
trabalhar noutros países
aprender outras línguas (árabe, hindi, japonês)
estudar arquitectura tradicional japonesa
especializar-me em sustentabilidade
construir aquela casa
adoptar crianças

01 junho 2010

inquietude

estou inquieta. com nada em especial. com tudo. imensamente inquieta.

já perdi o número de noites em que tenho uma dificuldade imensa em adormecer. e só numa delas, até então, foi insónia. as outras são pura inquietação. pensamentos, recordações, filosofias, conversas. já resolvi milhares de assuntos e deixei os mesmos por resolver. assuntos que nem sequer precisam de ser tratados. conquistei-os com um simples olhar e uma conversa igualmente simples. a todos. que estupidez... tudo tão fácil. já fui onde nunca estive e falei com quem nunca conhecerei. quem é o australiano gareth? aliás... porquê australiano e porquê gareth? já fui adulta e responsável, com uma vida organizada. profissões, filhos, cabelos brancos e umas rugas sorridentes. mas basta fechar os olhos e dormir que quando acordo a vida não se mexeu um milímetro. quanto tempo passou? oito meses.

as viagens inquietam-me. a tese de mestrado. o fim do curso. os empregos também. até a roupa que deixou de me servir. e o cabelo que cresce. não precisava de crescer tão rápido. e as viagens, as viagens! os livros, os mapas, os filmes. o edredon que me faz suar e o lençol que se prende às pernas. os planos! são os planos que mais me inquietam. que mania dos planos! será que sempre fui de ter planos? a longo prazo, digo. porque a curto sempre tive. planos... chama-lhes antes sonhos. pode ser que assim consigas dormir...

quando estou inquieta tenho, invariavelmente e também, saudades do que fui um dia. que com um simples olhar e uma simples conversa, os conquistava mesmo. não é como agora que os conquisto nos meus pensamentos, no meu quarto e no meu corpo sozinho. já nem sequer sei como fazia. dá-me vontade de rir. às vezes de chorar. meia enraivecida. já de nada servem os truques do olhar intenso, do olhar fugidio, do olhar melancólico, do olhar tímido, do sorriso no canto da boca, do copo nos lábios. o final da noite é sempre previsível. o dia seguinte também.

de facto perdi, por completo, a paciência e imaginação infinitas que tinha para adoçar os e-mails, os telemóveis e os ouvidos de quem e por quem nutria algum interesse. agora sou óbvia. tão óbvia que ou não percebem ou não estão interessados. e assim os meus alvos vão mudando de uma direcção para outra. de tal modo que quando o meu cérebro dá por ele embriagado, perde a noção de para onde se deve dirigir e dirige-se para todo o lado. ao ponto de ser nojento. oh, eu não me importo. continua a dar-me vontade de rir. às vezes de chorar. o que me importa mesmo é já ter guardado uma série de "posters" no baú, porque obviamente não os poderia levar para mais lado nenhum.

estive também a pensar como a adolescência é tão contraditória. estava no auge. sedutora, descomprometida com a vida e comigo própria. e tão 'empreconceituada' e sem definições. sem definições tão aparentemente bem definidas. se é a fase da estupidez, ao menos que tivesse feito o triplo dos disparates! ("mais ainda?" dizem uns - "claro que sim!" digo eu) ao menos que tivesse guardado o pouco pudismo que tinha para mais tarde ou para nunca. que nem pudismo era. era uma coisa infantil e aguada. tomava a forma das circunstâncias. eu que gosto tanto de recordar e contar histórias, imaginem quantas mais poderia, hoje em dia, partilhar. aliás, ontem à noite voltei ao sótão para me sentar em frente aos baús que guardo e levar para lá mais um... chama-se "quando deixei de saber". tenho para mim que se vai encher rápido.

[...]

estava eu a dizer que me sentei em frente aos baús. estive, então, a ler uns textos e umas mensagens trocadas. "dizes isso porque nunca te apaixonaste de verdade". estão sempre a lembrar-me disto. que mentira. "ainda bem!" devia eu dizer. alguém já vos explicou que a paixão é uma doença? não estou a falar de uma doença metafórica. é mesmo uma doença - e a confirmar o que eu sempre pensei sobre o assunto, um médico confirmou isso mesmo numa entrevista à qual tive o prazer de assistir. não, não. não é só quando a paixão extrapola determinados limites que se transforma em doença. a paixão em si é "a" doença. evidente que terá os seus graus, como a esquizofrenia ou o autismo. a diferença é que se manifesta no corpo como uma droga agradável. (que redundância). e, tal como uma droga, também traz ressaca. essa parte vocês sabem, não é? mas dão tudo para voltar a consumir. porque todas as vezes que a paixão vos faz sentir bem, paga em dobro todas as vezes que vos fez sentir mal. e tal como a maioria das doenças, também ela tem cura. duas: o esquecimento ou o amor.

eu já me senti demasiadas vezes contaminada. sempre me valeram os comprimidos de esquecimento que tomava de imediato. uma espécie de pílula do dia seguinte. "isso não é paixão". lamento, mas é. talvez de grau um. às vezes de grau dois. ainda bem! que esses comprimidos só funcionam a longo prazo quando o grau é maior. queriam vocês também esquecê-la no dia seguinte, quando as coisas não foram pelo carreiro que queriam. nem isso. que vos sabe bem quando os intestinos se contorcem debaixo dos lençóis, as mãos apertam os dedos e os olhos afogam-se num suor doentio. eu sorria. e ia ao sótão guardar mais uma memória. "sabes, eu tenho uma vantagem. hoje estou apaixonada por ti mas, se for preciso, amanhã já não estou." disse-lhe eu. "estás a fingir então." "não. mas amanhã vou estar. e vou fingir tão completamente que o meu próprio corpo vai acreditar. e esquecer-te mesmo." como o poeta fingidor. que chega a fingir que é dor. a dor que deveras sente. "tens uma pedra no lugar do coração!" que cliché mais fora de moda. "não, não tenho. tenho gelo. é por isso que ele derrete quando exposto a temperaturas mais elevadas." esclareci.

mas a quem isto não convence, houve uma vez que os comprimidos de esquecimento não resultaram. tomei tantos e durante tanto tempo, que o receio de que deixassem de fazer efeito numa próxima necessidade, fez com que parasse de os tomar, há um ano. é uma paixão de grau ingrato. com metástases por todo o corpo. felizmente, a minha firmeza e teimosia habituais agarraram-se à sensatez e eu afastei-me para nunca a consumir. mas está aqui. sempre presente. e faz questão de, uma vez por outra, se exibir para mim. em tons de sofrimento e angústia. é uma dança macabra que já dura há mais de quatro anos. ficas a saber que eu nunca mais tomei os comprimidos. escusas de fazer questão de me lembrar de uma coisa que eu não esqueci. e dizem vocês que a paixão não é uma doença... não me façam rir, que ainda me fazem chorar! o meu único erro (que disparate... já cometi tantos) foi ter tomado tantos comprimidos anti-paixão de esquecimento. devia ter adivinhado que, neste caso, não adiantariam. pelo contrário, o efeito secundário foi agir como uma vacina. estou imune. já? ou finalmente...

(não sei se te deva agradecer por nunca mais adoecer, se te culpar de me teres condenado a ti)

daqui a vinte anos, se continuar a doer, quem sabe experimento o outro antídoto.