31 janeiro 2011

trollbusters

das várias coisas que a net me permitiu fazer, das oportunidades que me trouxe, apetece-me partilhar convosco o que aconteceu na primeira quinzena de novembro passado. daquele que se tornou o movimento mais significativo e internacional do facebook, nasceu um projecto que simboliza, em si mesmo, muito do que pode acontecer nestas malhas "virtuais" e reserva o seu lugar em variadas personificações das mais díspares temáticas da vida. das nossas vidas.

o movimento nasceu de um evento que se intitulava "muda a tua foto de perfil por um cartoon ou desenho animado da tua infância". ao que parece, teria surgido como uma homenagem ao criador dos pokemon, que falecera poucos dias antes, e o seu autor original não sei se chegou a ser descoberto. português, parece que seria. em pouquíssimos dias o movimento tornou-se internacional e espalhou-se a centenas de milhares de pessoas por esse mundo fora. era lindo ver as páginas do facebook coloridas com as mais deliciosas memórias da nossa infância. mas não tardava a que um outro movimento se impusesse. de origem portuguesa, isso é certo. que, afinal, tudo aquilo não passava de uma manobra levada a cabo por pedófilos para atraírem crianças. "que criança não aceitaria o pedido de amizade de uma cinderela?!". o drama, o horror, a tragédia! nada mais português. que, além de só ver coisas negativas na moção mais inocente do mundo, é incapaz de analisar a verosimilhança das suas palavras. o receio ignorante de outros milhares de pessoas, além de as fazer recuar nesta diversão, fê-las encabeçar uma luta oca contra a pedofilia e, em última instância, travar e acabar com a nossa brincadeira antes de tempo.

do outro lado (do nosso lado), nascia a brigada armada anti-trolls (os tais e outros que tais). armada de um pouco mais do que alarmismos infundados, armada de capacidade de raciocínio próprio e de habilidade argumentativa, armada de muito boa-disposição e de pouca ou nenhuma paciência para más educações e insultos. armada também em parva porque, por vezes, só se combate a estupidez com estupidez. foram dias intensos em que as gargalhadas eram uma constante, que duravam o dia inteiro, noite e madrugada adentro. também com unhas e dentes, defendíamos o nosso território animado. nós, que não nos conhecíamos de parte alguma. lembro-me bem de passar os dias agarrada à barriga, a rir em alto e bom som ou a tentar abafar as risadas quando as horas já as proibiam. de limpar, freneticamente, as lágrimas que me embaciavam a vista e de gerir uma dúzia de conversas em simultâneo, para não perder pitada. ao mesmo tempo, travava uma batalha em casa: "não sei o que tanto fazes nesse portátil". "tudo". vivo, essencialmente. nunca entenderão...

dia após dia, lá estávamos nós, competentes e assíduos, como se de um posto se tratasse. arregaçávamos as mangas, aquecíamos os abdominais e os músculos da face e mandávamo-nos às feras. quando não havia trolls à vista, recordávamos os melhores, informávamos os nossos companheiros das novidades, rindo vezes sem conta. sem darmos por isso, éramos já um grupo coeso com um ou dois objectivos em comum. não fazíamos ideia da idade uns dos outros, da cor, da aparência e isso parecia não importar, como poucas vezes na vida. delicioso!

o que se passou naquela página, fatalmente encerrada numa madrugada da qual me recordo ainda tão bem, é algo que palavras nenhumas poderão conter. cada um recordará ou não. para mim, foram mais do que dias e noites bem-humoradas, ainda que as recorde com saudades. foi mais uma lição. mais uma porta e várias janelas que se abriram. mais uma prova que há sempre mais qualquer coisa no nosso caminho. o que quer que essa coisa nos reserve. mas isso sou eu, que tendo a exagerar em tudo. a pensar em tudo em demasia. a viver intensamente cada bocadinho de espaço e tempo que a vida me oferece.

lembro-me ainda de deixar algumas lágrimas cair no dia seguinte a termos perdido o nosso playground. sentíamo-lo tão nosso que poderemos ter perdido a noção de que estava acessível a milhões de espectadores, por alguns momentos. lembro-me de pedir desculpa, pessoalmente, a dois ou três "colegas", por me sentir, em parte, responsável por essa perda. mas nunca saberemos ao certo se a culpa foi mesmo nossa, ou se, simplesmente, a ignorância generalizada nos venceu nessa pequeníssima batalha. mas aí sim, nasceram, oficialmente, os trollbusters. do qual faço, orgulhosamente, parte. ainda que já não houvesse trolls para caçarmos, queríamos manter-nos unidos. fizeram-se quadros de honra, vídeos, músicas, quadras, logótipos... aquilo com que cada um pudesse contribuir. deram-se casamentos, divórcios, mil palhaçadas e tudo mais o que nos fizesse rir! 

[por falar nisso, ainda estou por saber porque é que na minha primeira e única oportunidade de ser bem sucedida - isto porque foi a única noite em que a buttercup se recolheu mais cedo - e enquanto soava em tom ameno um cd de barry white, irrompem sala adentro a maggie, com um tom amarelo avermelhado e a fralda torcida, logo seguida do bananaman, que apertava, atabalhoadamente, as calças - isto muito muito antes dele conhecer os poderes da she-ra - da jessica rabbit, que exibia o seu vestido do avesso, onde ainda se avistava uma enorme mancha, causada por... não vem ao caso, e do sinalética (desenho animado que marca a infância de qualquer um) que, provavelmente, estava ainda a fechar o último botão da camisa. de frisar que tudo isto acontece longas horas depois de ter sido submetida a uma das mais inglórias torturas, que consistia em ficar sentada, a um canto, a observar. e tenho eu a distinta lata de os chamar de amigos...]

lembro-me, igualmente, do nervoso miudinho do dia 1 de dezembro: dia em que íamos revelar as nossas caras. estava mergulhada numa curiosidade infinita por ver as suas e num certo receio infantil de mostrar a minha. são estes pequenos detalhes que me fazem sentir viva. estas pequenas parvoíces. indo de cara em cara, não conseguia deixar de exclamar "ah...!" como se fosse assim tão estranho que o trunks não tivesse o cabelo azulado e espetado, que o soundwave afinal não fosse uma máquina, que a buttercup tivesse um olhar meigo, que a mafaldinha estivesse penteada, que a maggie não fosse amarela, que "a" calimero não transportasse uma casca na cabeça, que a pantera cor-de-rosa não tivesse cauda, que a kaoru e a mulan nada se assemelhassem a asiáticas, que o d'artagnan não usasse chapéu, que a she-ra não fosse loira, ao contrário da branca-de-neve, que o tico e o teco estivessem tão longe de ter um pêlo macio e farfalhudo, como eu, a flappy. e por aí. surpreendente! oposto ao que seria de esperar, num lugar comum, nos primeiros dias tivemos bastantes dificuldades em associar aquele nome, àquele rosto. não deixou de ter o seu encanto.

três meses volvidos (que em tempo virtual se transforma, pelo menos, no triplo), como na vida que dizem a real, vi partir vários companheiros, senti saudades, desiludi-me. não é na perfeição ou nas situações lineares que a vida nos presenteia com os seus mais sábios ensinamentos. gosto de acreditar que levaram consigo boas recordações. que na etiqueta duma das gavetas dos seus sótãos se lê "trollbusters". pouco me interessa que assim não seja. quem pinta as paredes do meu mundo, sou, tão somente, eu.

até agora, conheci, pessoalmente, o asterix, a pequeno pónei e o pedobear (que também marcou tantas infâncias). e o que sempre uniu este grupo tão heterogéneo, uniu-nos, também, naquela noite: uma imensa boa-disposição, humor e partilha. outros tantos vi ficar. com eles, vivi momentos irrepetíveis de parvoíces tamanhas, lindas!, de confissões e inter-ajuda, de pequenos gestos e grandes sorrisos, de private jokes, caramillos, chupas e saudades do tão afamado hernâni. superei, por eles, vários bloqueios de incompreendidos "comportamentos abusivos", geri centenas e centenas de e-mails até aprender a limitar as notificações e dei a volta a inúmeros comentários-fantasma. sobretudo, continuo, com eles, a rir. muito. continuo a encontrá-los, quase diariamente, no nosso cantinho especial. ainda que, no mundo que, desprezivelmente, tantos chamam de virtual, apenas se chame "grupo secreto", no meu mundo real chama-se "cantinho do meu coração".

[obrigada a todos os TBs que tornaram os meus dias mais bonitos, me fizeram rir e chorar, me ensinaram e comigo partilharam. queria dizer-vos que deste meu lado, que nada tem de virtual, não há nenhum botão "delete".]

30 janeiro 2011

internet

falemos de desilusão? de boa disposição? falemos de viagens que foram? das que ainda não foram? falemos dos melhores dias da vida? ou dos piores? falemos de amizades? de frivolidades? ou de outras idades? falemos de ciclos concluídos? ou de ciclos por concluir?... de repente, ocorreu-me que todas estas coisas das quais gostaria de falar, as quais gostaria de partilhar para além de mim própria, podem estar encerradas numa única rede: a internet. não tendo ainda escolhido um dos temas para abordar, sabendo apenas que necessito de falar, podemos começar por aí. quando escrevo, não faço ideia de onde vou parar ou de que caminhos vou percorrer. vou apenas. e agora, vou por aí.

tenho plena noção dos milhões de pessoas que vivem sem internet. (talvez não tão plena assim). de entre elas, as que não têm essa opção e as que optaram. e de entre as últimas, as que são avessas e as que, simplesmente, são indiferentes. que, por motivos profissionais, fazem uma ou outra pesquisa. por motivos pessoais ou outros que tais, têm um e-mail. e pouco mais. o "essencial", diriam. o que eu diria? que sem internet não era metade do que sou hoje. que não me teria desenvolvido metade do que me desenvolvi. que não teria vivido metade do que vivi. que não teria metade das recordações. metade? que mentira. não seria minimamente o que sou hoje. a única verdade será, talvez, metade das recordações. apenas porque vivi metade da vida sem ela. mas isso não impede que as mais significativas, intensas e reveladores sejam as que, directa ou indirectamente, estão relacionadas com a internet.

após alguns minutos de reflexão, no primeiro dia do ano, pude enumerar as cinco coisas de que mais gostei durante o ano transacto. não me surpreendeu, de modo algum, que quatro delas tenham tido origem na dita net (nome carinhoso) e a quinta se tenha servido da mesma. a minha vida gira em volta deste mundo e se mo tirassem, confesso, viveria miserável a observar a lua da janela, a passear à beira-mar e a sonhar com coisas impossíveis. não soa mal, mas já hoje o faço... isso e muito mais. hoje, sei que preciso de me comunicar para além das palavras que faço ecoar no meu quarto e muito para além do que escrevo em linhas tortas e caligrafia apressada, de difícil compreensão. (nem sempre o soube). hoje, o calo do meu dedo médio é apenas uma doce lembrança e o calo da palma da mão proeminente e orgulhoso.

o que, por vezes, as pessoas ao meu redor não entendem (digo, os meus pais e os amigos com quem me encontro, fisicamente, uma ou duas vezes por ano) é como a minha vida está, de facto, inteiramente dependente deste mundo, aparentemente virtual e distante. pessoas que não se apercebem da quantidade de vezes que não saio de casa, ou as que não têm mesmo essa noção, respectivamente. para mim, não há nada mais real e mais próximo. se o meu telemóvel ainda insiste em tocar duas ou três vezes por mês, o meu facebook pisca, diariamente, como se me estivesse a chamar à vida. à minha, que seja. e quando, raras vezes, me fazem ou me faço acreditar que tudo parece vazio e insignificante, daquele lado, seja ele qual for, surge novo fôlego, novos sorrisos e novos desafios. por isso mesmo, partindo de vários tópicos, faço questão de elaborar uns quantos textos que representem bem aquilo de que falo.

a quem se interroga porque me fecho, sugiro que o encarem como uma abertura ao mundo além fronteiras físicas. a quem considera esta vivência insípida, lembro que cada ser humano é um indivíduo e que a felicidade não tem o mesmo rosto para todos. que nem todos temos as mesmas alternativas, as mesmas oportunidades ou capacidades. a quem se revê nas minhas palavras, a quem compreende o alcance delas ou a quem, naturalmente, aceita as nossas diferenças, obrigada por me ouvirem.

26 janeiro 2011

human beings

are capable of the most admirable and terrifying acts.
we can have extraordinary capabilities and inner strength or we can be an overwhelming example of weakness and vulnerability.
we are made of boundless intelligence together with an inborn incoherence.
there's no way i can stop loving these perfectly imperfect and fascinating animal made machines.