14 fevereiro 2012

a primeira bttzada

a que propósito ou como isto começou, para o caso pouco interessa (ainda que demasiados já saibam de onde veio a ideia). o que interessa é que começou. devagar, com algumas quedas, pouco equilíbrio – de outro modo nunca teria descoberto que plantavam louro, alfazema e outras plantas aromáticas no jardim de miraflores – mas sempre com muita determinação e vontade de melhorar. agora uma curva mais apertada. agora subir um passeio. agora descer uma rua íngreme. agora tirar uma mão do guiador e dizer com um sorriso: "consegui"! agora montar e desmontar graciosamente. agora mais rápido. agora apanhar este palerma que me ultrapassou. só não apanho porque não gosto de palermas… agora melhor, todos os dias melhor.

o que pode ter sido uma obrigação por escolha própria ia tornando-se, quase sem se dar por ela, num enorme prazer. "então e se chove?", "não ias melhor de comboio?", "já viste o frio que está?". se chove, molho-me. nunca irei melhor de comboio e muito menos mais feliz. e o frio combate-se com roupa quente. de qualquer modo, sim, já senti o frio que está.

como em tantas coisas que faço na vida e na maioria das decisões que tomo (you gotta love aries…), no último domingo decidi juntar-me a um grupinho de btt para um passeio de bicicleta que nos levaria da moita a vendas novas e se as pernas quisessem, de volta também. um total de 110km, sensivelmente. se podia ter esperado até fazerem um percurso mais curto? se podia ter eu própria feito uns treinos antes de me mandar para tal desafio? podia. mas também me podia chamar joana e não me chamo.

com toda a inocência do mundo e a felicidade de uma criança, levantei-me às 05:30 (o termo acordar estaria absolutamente incorrecto aqui, uma vez que não tenho a certeza de sequer ter adormecido), acendi a luz e passei os olhos por todo o material e equipamento, espalhados pelo chão, que estava prestes a estrear. dificilmente poderia estar mais excitada!

enchi um canecão com quase meio litro de pensal e tentei ingeri-lo todo durante mais de meia hora. "para dar energia", pensava. decidi que ia poupar 10km de bicicleta e ir de comboio até ao cais do sodré mas não sei bem como aconteceu, perdi o comboio e tive de ir de bicla na mesma. lá se foi a papa toda naquela meia hora de luta contra o tempo e contra uma ventania como nunca tinha sentido antes. parecia que alguém me estava a pôr à prova, como se eu não superasse sempre os desafios a que me proponho! a três minutos da partida do barco lá estava eu, com um sorriso maroto de vitória.

esperavam-me no barreiro e não fosse o enjoo e o frio que passei dentro do barco, teria chegado aos saltinhos de contentamento. as borboletas começaram a eclodir dos seus casulos, que tinham sido colocados bem na boca do meu estômago. tentava controlar o nervosismo mas ao ver tantos ciclistas e bicicletas não podia deixar de pensar que era uma maluquice o que estava a fazer. "trouxeste câmaras de ar? e elos de engate? e (cenas que eu não me lembro)?". engoli em seco e, ao invés de ter confessado que não sabia o que eram tais coisas nem para o que serviam, disse que… não. visto de fora parecia mesmo que não tinha como tal aventura dar certo, mas lá está… quantas e quantas vezes foi esse o cenário das belas histórias da minha vida?

partida, lagarta, fugida! (eu sei que é largada, mas gosto mais de lagarta…) "ok, agora não posso mais fugir. mas quem disse que eu queria fugir?", conversava eu comigo mesma. primeira entrada nos trilhos com uma inclinação ridícula: "agora tens de acelerar para subir!", disseram-me. tenho, pois claro… tenho é de desmontar rapidamente antes que seja mesmo ao início que tenho uma queda valente. já sentia o suor a escorrer pela barriga abaixo e ainda nem tínhamos quase começado. primeiro banco de areia "baixar as mudanças e nunca parar!", mil vezes me disseram. tentava obedecer, pois estava mais do que visto que essa era a solução, mas às vezes as pernas tinham vontade própria e paravam à chegada, fazendo, obviamente, com que me desequilibrasse ou mesmo caísse.

o nervosismo inicial deu lugar a uma descontracção agradável e os pequenos e médios desafios deram lugar… não, corrijo. os pequenos desafios deram lugar a pitadinhas de adrenalina e os médios desafios… bom, ficaram-se por isso mesmo. mas a evolução foi tão significativa durante um único dia, que não tenho dúvidas que em breve ultrapassarei até os grandes desafios. alguém diria que alguma vez eu estaria nesta posição? há um mês atrás nem sabia montar na bicicleta como deve ser!

a surpresa ia crescendo à medida que os quilómetros iam somando. "estás bem?" - "estou óptima!", respondia. e a verdade é que estava mesmo! (claro que mais para o final a resposta era mais um "sim" arrastado…) passado nem uma hora já tinha percebido que estava no local certo, com as pessoas certas, a fazer algo que me dava um prazer imenso.

ainda assim, esperava o momento em que as minhas pernas iam ceder. mais 10km, mais 20, mais 50… e as pernas, nada. os joelhos a responder lindamente. agora perguntam vocês: o que faltou para ser perfeito? os pulsos! os pulsos! a última coisa em que poderia ter pensado… os pulsos! tínhamos chegado aos 30km e eu já me queixava deles. as dores começaram a ser de tal modo intensas que até para baixar as mudanças eu gemia por dentro. um suplício que, infelizmente, não me deixou gozar de forma mais tranquila os últimos quilómetros por entre árvores, pedras e pedregulhos e as benditas poças de lama. felizmente, tive sempre companhia até ao fim, que nunca me deixou desmoralizar. (obrigada!)

podia continuar a descrever uma série de situações; podia dizer que as bifanas que comemos ao almoço podiam ser mais grossas; podia dizer que me disseram que era preciso voltarmos uns quilómetros para trás por estar uma estrada cortada, já perto da recta final, só para verem a minha reacção; podia dizer que a certa altura já nem tentava ultrapassar os desafios e desmontava logo quando via o grupinho parado num local estratégico de máquina fotográfica em punho… mas, na verdade, o que se pôde retirar daquele magnífico dia foi uma aprendizagem sem fim, um companheirismo cinco estrelas e um ambiente descontraído e divertido – tudo o que eu gosto!

não poderia haver outra maneira de terminar este texto:
ATÉ BREVE! VENHA A PRÓXIMA BTTZADA!

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